22 de dezembro de 2013

Assignment 2 - The Big Box

O último projeto do ano foi vapt-vupt. Foram quatro semanas intensas projetando loucamente pra finalmente entrar nas férias de Natal!

Nesse projeto os professores queriam que a gente lidasse com o conceito de network e com um sítio um pouco mais "agressivo". Na aula introdutória eles falaram muito sobre a "cidade do caffe latte" que os urbanistas pensam em hoje em dia - que seria a cidade na escala humana, aconchegante e familiar - em oposição da "cidade da infra-estrutura" - que é a cidade que não vemos, das grandes distribuidoras, dos grandes galpões industriais, uma cidade invisível.

O projeto
Nosso projeto era, então, criar um galpão de uma revendedora de alimentos - o cliente foi a empresa dinamarquesa Nemlig.com - e ainda adicionar um plus ao projeto, que seria de nossa escolha. Nosso terreno era bem perto da faculdade, a 10 minutos do centro, em uma área chamada Refshaleøen - um ambiente pós-industrial que tem se esvaziado e recebido novas funções, como áreas de lazer e entretenimento "alternativas".

Dessa vez eu fiz dupla com outra estudante de intercâmbio, a escocesa Jordan - minha xará de tradução. Logo no início a gente se concentrou na questão de marketing e em como o edifício poderia ajudar a afirmar e reforçar a imagem da empresa. No site, uma das frases chaves era:
"nemlig.com is the ultimate freedom for those who would rather spend their precious time on everything else in life, there are far more fun things to do than the daily shop."
Para nós, essa frase resumiu toda a filosofia por trás da marca: ela é um poupadora de tempo, permitindo que as pessoas possuam mais tempo livre para as "coisas que importam". Decidimos juntar nossa atividade plus com o slogan da empresa, criando uma área de lazer pública junto ao prédio, seguindo também uma tendência da região. Assim, nossa função plus se tornou um peça de marketing e propaganda da empresa, estando conectada com seus ideais e com a cidade.

Explorando as ideias de um lazer incorporado ao prédio, vimos que a melhor opção seria fundir completamente o edifício com o lazer. Assim, nossa função plus tomou forma envolvendo o prédio e escondendo a forma quadrada e industrial tradicional dos armazéns.

Em termos de programa, escolhemos somente funções que não necessitavam de muita manutenção e que pudessem tomar diferentes usos pelo público. Concentramos essas pequenas áreas ativas nas beiradas do edifício, criando uma conexão com a água e também dando sentido ao espaço nos fundos do armazém, que acabaria sem uso nenhum. Também tiramos vantagem do interior para construir o exterior - a área acima do freezer, por exemplo, se tornou uma piscina aquecida, que utiliza o calor dos coolers do freezer [detalhe 1]. Também fizemos uma área de praia, gramado, mirante, arquibancada e áreas de descanso.

A ideia de diversão também se estende pra dentro do armazém, pois queríamos criar um ambiente extrovertido e bom para trabalhar. A variação de altura dos telhados permite entrar luz no centro do edifício e permite a construção de espaços elevados, que se tornaram áreas de escritórios. Os escritórios funcionam como caixas de vidro suspensas que possibilitam maior interação entra os trabalhadores e também melhor fiscalização do trabalho em geral [detalhe 2].

Próximo à praia nós colocamos um refeitório/restaurante, que também serviria aos visitantes e conectaria melhor o interior e exterior do edifício. No exterior, a mudança gradual dos materiais facilita a transição entre a área pública e o prédio em si, além da transição entre o edifício e a cidade e a água. A posição de frente para a água faz com que o edifício possa ser visto do outro lado do canal, aumentando a exposição da marca para a cidade.

Por fim, na questão de funcionalidade do armazém, nós tentamos organizar o interior de forma mais racional e funcional possível, criando espaços horizontais ortogonais. A estrutura, também, segue um grid e uma modulação que a torna viável e não muito dispendiosa. O material da fachada, feita de metal reutilizado, faz com que o edifício assuma a cor da marca: um laranja Nemlig!



Minha opinião
No fim, gostei muito do projeto. Quando começamos eu nem imaginava que iria terminar assim e acho que é bom quando nossas ideias e nossos esforços nos surpreendem. Trabalhei super bem com a Jordan e não viramos nem fomos dormir absurdamente tarde nenhuma noite! Trabalhamos muito duro mesmo, todos os dias, e o trabalho valeu a pena no final. Tivemos alguns problemas com a estrutura e várias coisas ainda teriam que ser resolvidas - mas os professores mesmo falaram que não esperavam de nós a resolução de todos os problemas, ainda mais por conta do pouco tempo de desenvolvimento.

Opinião dos professores
Em geral, os professores se convenceram com nossos argumentos. Gostaram muito da nossa abordagem de marketing e disseram que é assim que se vende um produto pro cliente! Acharam o projeto bem amarrado e falaram que temos boas habilidades de designers. Falaram que nós apresentamos bem, apesar de eu ter travado muito no inglês - eu ainda fico muito nervosa quando tenho que apresentar algo em inglês! Gostaram muito dos desenhos também, e realmente eles estavam muito bons e muito mais bem definidos do que os dos outros grupos. A maquete também foi um show a parte, porque estava linda de morrer. Não gostaram muito das nossas perspectivas - que eram pra ser, a pedido deles, fotos dos modelos editadas no photoshop. E realmente elas não estavam muito boas, pois acabamos não investindo muito tempo nelas. Reclamaram e questionaram mais algumas coisas, mas eu não lembro bem, porque a crítica geral foi boa. :) Por fim, duas frases mais ou menos traduzidas que eu achei inspiradoras:
"É mais que uma função ou um conceito, é sobre a atmosfera e o sentimento. É sobre a sensação que você ser passar.
"O projeto é um caminho, são estudos, não uma resposta pronta."

 Projetos de outros grupos.

A maquete
Como eu disse, nossa maquete ficou linda. Eu pelo menos adorei o resultado final - não só por ter sido um processo completamente diferente como também pela "atmosfera" que a gente conseguiu criar com ela. A princípio, queríamos usar aço corten na fachada, mas os professores viram nossos testes de material - tínhamos testado alguns tipos de material para fazer a maquete final - e gostaram mais do efeito enferrujado.

Pra chegar nesse efeito nós usamos metal de verdade. Compramos um metal especial, que era fácil de enferrujar, na faculdade. Cortamos as peças na oficina de metal e depois passamos elas em jato de areia, para que a camada protetora saísse mais fácil e ele enferrujasse melhor. Depois mergulhamos as peças em ácido acético (vinagre) dissolvido em água e deixamos do lado de fora por uma noite pra enferrujar. Acabamos descobrindo, com alguns testes, que o metal enferrujava melhor na chuva (?!), então deixamos pegar chuva mesmo. No dia seguinte estavam lindos e só lavamos e depois colamos tudo com uma cola super potente lá. O metal também colocou super bem com papel e com plástico, graças a essa super cola. Falando assim parece que foi super rápido, mas a maquete em si demorou dois dias pra ser feita!



Reflexões
Durante e depois das apresentações me bateram várias reflexões sobre a faculdade e arquitetura e eu como estudante + futura arquiteta. Sobre a faculdade, eu vejo muita diferença na hora da crítica do projeto, principalmente pela postura dos professores. E caso algum professor da FAU um dia leia isso, por favor entendo que eu estou generalizando. Já tive excelentes professores na FAU e reconheço isso! 

Para começar, aqui os professores aqui não avaliam seu projeto vendo se você fez o que ele falou pra você fazer ou não. E eles também não falam no final como se você tivesse feito algo ruim ou errado no projeto. Eles aceitam muito mais as decisões próprias dos alunos, desde que hajam justificativas e mesmo que sejam contra uma direção que o professor apontou antes.

Uma coisa que eu senti muito aqui foi o tom da fala deles. Eles realmente falam acreditando em você. Acreditando que você é capaz de fazer algo muito melhor na próxima e não te destroçando pra próxima banca ou pro próximo projeto.  Além disso, eles sempre mostram que tem plena consciência de que o projeto não esta terminado - principalmente por causa do pouco tempo que tivemos nesses dois primeiros projetos - e levam isso em conta na hora de avaliar. Eles também levam em conta a individualidade dos alunos na avaliação. Por exemplo, se um grupo tem a estrutura bem definida mas pecou na representação e um outro tem imagens maravilhosas mas uma maquete mais ou menos. Talvez eles usem essa filosofia de "tratar diferente pessoas diferentes". Eles se concentram no que você fez e não no que você não fez, eles sabem que sempre vai faltar algo e até agora eles não mostraram que faltar alguma coisa é mortal pro seu projeto. É o processo. A palavra é processo! Mas isso também não quer dizer que eles não sejam rígidos nas hora da avaliação final.

Além disso, a impressão que eu tenho da FAU é que você não pode se soltar. Você só pode fazer o que funciona - e só o que funciona de um modo conhecido. O diferente não é bem-vindo nem incentivado, nem por professores nem por alunos em geral. O diferente é visto como algo "louco". Mas agora eu penso que é preciso se soltar completamente, fazer coisas loucas, pra depois se assentar - ou nunca assentar! Pois assim a gente consegue explorar a nossa criatividade e nossas habilidades ao máximo. Em um livro, uma vez, eu li algo assim: "é preciso conhecer as regras para depois quebra-las". O que eu sinto é que nos ensinam as regras para segui-las. E só.

Até agora eu já vi algumas caras do intercâmbio. A parte da tristeza, a parte solidão, a parte de começar a ver tudo com outros olhos. Agora acho que estou na parte do auto conhecimento profissional selvagem. Hora de descobrir no que eu acredito e o que eu quero levar para minha vida pós-intercâmbio. E é claro que tem tudo a ver com arquitetura, porque eu respiro arquitetura e não da pra escapar disso.

Eu sabia que meu intercâmbio seria diferente do que eu esperava. Minhas experiências geralmente são muito introspectivas, simplesmente porque eu sou uma pessoa introvertida e pra dentro - e eu não acho mais que isso é ruim. É claro que eu quero party hard e tudo mais, mas tem esse outro lado que ninguém coloca no facebook. Tem o lado que te muda profundamente de um jeito que você nunca sentiu que poderia mudar. O lado que te faz sentir feliz só por se entender melhor ou por descobrir algo que você ama.

Na FAU os professores se preocupam mais com metro quadrados do que com luz. Mais com programa do que com qualidade. Aí a gente se pergunta, do que é feita a arquitetura? O que defini um projeto? É se ele segue a risca um programa pré-estabelecido ou se ele cria ambientes interessantes, cria sensações? Eu quero fazer arquitetura das sensações

A FAU está criando arquitetos comerciais, porque é assim quer a arquitetura é vista no Brasil. Mas é possível o oposto. Há mercado para a boa arquitetura, mas é preciso arquitetos que realmente acreditem nisso para que a situação mude. Eu não quero fazer arquitetura pro mercado, eu quero fazer arquitetura para as pessoas. 

Além disso, eu quero mudar meu ritmo de vida e ritmo de projeto. Mudar o jeito que eu lido com o tempo, como se ele estivesse sempre correndo contra mim. Agora, na próxima vez que um professor me perguntar se eu acho que não tive tempo o suficiente, eu vou responder: "se a nossa capacidade de criar é infinita, o tempo nunca será finitamente suficiente".

E SE ALGUÉM QUISER VIR COM BOAS VERDADES DO MUNDO PRA CIMA DE MIM E ACABAR COM MEUS NOVOS SONHOS, NÃO GASTE SEU TEMPO.

Fim, por hoje.

Um comentário:

  1. Seus textos são sempre ótimos Gigi, mas esse é de longe o que eu mais gostei!
    Parabéns! Pelo texto, pelas experiências, pelas reflexões.

    Bj

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