24 de fevereiro de 2014

Balance de ½ intercâmbio

6 meses.
Um meio.
Metade.
É, fevereiro já está acabando.



É muito difícil encarar isso, ainda mais agora que eu finalmente estou aproveitando a viagem. Já chegou na metade. Quer dizer que, daqui pra frente, está mais perto do fim do que do início.

Os primeiros seis meses foram muito conturbados para mim. Momentos de adaptação, tristeza, solidão... Não sei se foi o tempo, o frio vindo aos poucos - desde o início de outubro -, ou se foi mesmo eu. Se foi minha capacidade não muito boa de adaptação, minha relutância quanto ao novo, a solidão de não ter nenhum conhecido ou também o medo, puro e simples. Não sei se faltou aquela comida de casa, aquele calor humano, aquele sol que esquenta ou uma iniciativa minha.

Essa não foi minha primeira viagem sozinha, mas foi a primeira vez que eu morei sozinha. Nas minhas experiências anteriores, foi basicamente o mesmo: metade do tempo, adaptação; metade do tempo, vontade louca de ficar. Sempre fiquei me perguntando se esse tempo eu perdia ou ganhava.

Se os primeiros seis meses eu passei numa inércia deprimente. Agora o que não falta é vontade de passear, ver lugares - aqui dentro da Dinamarca mesmo - e sair. É bem irônico como isso acontece. Eu tive que primeiro odiar minhas escolhas, me torturar por causa disso, não gostar da cidade, querer voltar pra casa intermináveis vezes, para depois conseguir aproveitar o meu tempo aqui.

Não sei se é a experiência padrão, mas pra mim foi assim. 

Quando eu for contar essa história - se um dia eu contar essa história - vou fazer questão de frisar isso. Nem tudo é maravilhoso. Nem sempre você tem 100% - ou nem mesmo 50% - de certeza das suas decisões. Nem sempre a gente vai pro melhor lugar que a gente poderia ir e nem sempre a gente se apaixona logo de cara. É um relacionamento. É um longo e sério relacionamento, é aprendizagem,  tolerância, experiência. É entender. É mesmo aprender a gostar. E não é rápido, não é fácil e também dói um tanto.

Durante muito tempo, até o final de janeiro, eu tinha certeza de ter feito a escolha errada. País errado, cidade errada, escola errada, departamento errado. Em janeiro, eu quase voltei. Depois da minha família ter me visitado, de eu ter tido um semana horrível - de todos os jeitos que ela poderia ser horrível - eu estava pronta pra voltar. E foi em um momento, durante uma conversa de skype com meus pais - porque são sempre eles que nos salvam nessas horas! - que eu decidi ficar. A única coisa que eles me falaram - e talvez não tenha nem sido no sentido que eu acabei abraçando - foi "A escolha é a sua. A gente te apóia, mas a escolha é sua."

E foi aí que eu percebi que sempre esteve nas minhas mãos. Fazer do lugar errado, dos amigos errados, das escolhas erradas, o certo. Claro que não foi tão fácil e eu ainda continuei em dúvida por alguns vários dias. Mas eu resolvi ficar. Porque eu nunca fui de desistir e, principalmente, porque eu sabia que iria me arrepender depois. Assim como eu sabia que me arrependeria pelo resto da vida se não fizesse esse intercâmbio.

E agora eu estou aqui. Um semestre novo trouxe amigos novos e muita gente legal para ocupar o meu tempo. Eu nunca tive fim de semanas tão ocupados. Nada comparado com o tempo que eu passei em casa no final do ano passado, vendo todas as temporadas de How I Met Your Mother, Game of Thrones e Doctor Who. Agora eu estou com energia pra correr atrás desse tempo "perdido" - mas, sinceramente,  não acho que perdi tempo algum.

Cada pessoa se desenvolve no seu ritmo. Eu sei que no campo pessoal eu sempre fiquei um tanto para trás. Mas quando eu encontro o meu ritmo, o meu crescimento, os meus motivos, eu deslancho. E eu sempre fui assim. Gosto de pensar que as coisas ruins acontecem todas de uma vez só, deixando o espaço e o tempo livres para as coisas boas virem - e ficarem. Nesses próximos seis meses que ainda me restam, eu não vou mais me permitir ficar triste e sozinha. O sol está voltando, as flores nascendo e existem milhares de lugares para conhecer por aí.

Os mais experientes - leia-se: meus tios, pais, avós - com certeza vão me dizer que isso tudo faz parte da vida e que na verdade, é agora que a gente está começando a viver. Eles provavelmente já tentaram explicar isso pra mim um milhão de vezes e eu nunca entendi. Pois então fica minha mensagem para os tios, tias, mães e pais que nos amam e nos querem bem: deixem a gente viver. Por que eu sei que vocês só querem nos preservar, não querem nos ver sofrendo, não querem que a gente passe pelos maus bocados que vocês já passaram. Mas não adianta. Esse é o tipo de aprendizagem em que nós temos que ser os receptores primários. Temos que sofrer, passar dificuldade, ficar na pior, para aprender a dar a volta por cima sozinhos. Isso não dá para ensinar.

Do mesmo jeito que todo esse texto também não tem nenhum propósito de ensinar. Ninguém nunca me disse que eu poderia ficar triste e não aproveitar meu intercâmbio. Por muito tempo eu achei que eu era errada, uma anomalia social, ou algo assim. Eu comecei a escrever esse texto com o intuito de passar só um aprendizado: não é errado ficar triste e não é errado fazer escolhas erradas.

Por fim, fica um dos mantras que eu carrego pra mim: uma frase, do meu cantor gaúcho favorito.

"Na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem"

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lindíssimo texto, Giordana. :)
    Tenho certeza que essa experiência esteja fazendo (re)nascer uma pessoa melhor (no sentido de diferente) e mais forte aí dentro de você.
    Um grande abraço pra ti!

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